Uma ode aos sonhadores | MAPA360

Uma ode aos sonhadores



Por Lara Sant’Anna

São tempos difíceis para os sonhadores. 

Essa frase tem me acompanhada há um tempo, em situações diversas. O que eu mais gosto nela é o verbo ser no presente. Isso passa esperança, né? Quer dizer, hoje é difícil, mas amanhã talvez não. Ela também cria esse grupo de “sonhadores”, o que é totalmente abstrato. Quem são os sonhadores? Sobre o que sonham? E o mais importante, porque continuam sonhando? 

Tarefa difícil responder essas perguntas, sorte a nossa que não estou aqui para isso. O que quero é apenas provocar a reflexão e a discussão; quem sabe assim a gente não alcance o amanhã mais rápido. 

Em tempos desafiadores e que fazem a gente repensar fortemente os valores que regem nossa sociedade e existência, sonhar é questionar, é ser agente de mudança. Porque aquilo que quero para amanhã, começa hoje, por mais difícil que o tempo possa ser. É preciso respirar fundo, erguer a cabeça, sonhar e agir. 

A frase vem do filme o Fabuloso Destino de Amélie Poulin, um clássico moderno do cinema francês. Nele, a Amélie é uma jovem parisiense que encontra saída nos pequenos prazeres da vida, enquanto sai de sua zona de conforto e busca a coragem necessária para fazer acontecer. Nesse processo, ela se apoia em várias experiências de pessoas próximas a ela. A vizinha que chora há décadas pelo marido que a traiu, a colega de trabalho que é perseguida por um ex-namorado abusivo e pelo vizinho de ossos de vidro que se isola em casa há anos. 

Os paralelos que podemos fazer com nossa vida e nossa sociedade atual são muito, por isso, vá assistir. Se já tiver visto, reveja. Ele se ressignifica com o passar dos anos. 

Mas voltando aos sonhos que nos movem, devo dizer que a quarentena fez com que eles se tornassem mais pungentes, justamente porque o agir teve uma pausa. Tivemos mais tempo ocioso ao mesmo tempo que menos possibilidades de realização. Haja pão para gastar energia, aulas de desenho para exercitar a criatividade e lives musicais para preencher as emoções. A nossa comunicação se tornou pessoal, o que é bem desafiador. 

Quando temos tempo para olhar para dentro e para aquilo que nos cerca, percebemos que temos muito espaço para os sonhos e para a busca da realização. Percebemos que tem muitas mudanças que podemos fazer parte, sendo instrumento facilitador para que elas ocorram. Depois de três meses, nós sonhadores, chegamos no estágio da ação. 

Passamos por um primeiro momento de desespero, onde todo o ar do mundo não preenchia o pulmão, por mais fundo que se respirasse não era suficiente. Mas depois nos adaptamos ao ritmo, recuperamos a cadência. Chega então a hora de levantar a cabeça, fazer pose de herói e entender que o amanhã não se faz sozinho. Segue-se a construção dos sonhos, de se questionar, de buscar entender o que aconteceu e qual o meu papel em toda essa história. Onde quero chegar e para onde acredito que o mundo esteja indo. Por fim, chegou o hoje, quando percebemos que não estávamos sozinhos no processo, mas que uma multidão também buscava as respostas para as mesmas perguntas. Então só nos resta agir.

Qual a pergunta que você se faz? Quem pode te ajudar a encontrar a ação necessária? Para onde você pretende ir? Em meio a tantas informações e certezas instantâneas, nos resta questionar e sonhar com um amanhã melhor, mas sem se esquecer que o amanhã, assim como os sonhadores, também é uma abstração, ele é um dia que pode nunca chegar, ao mesmo tempo que pode começar a qualquer instante. Basta um empurrão amigo e muita coragem.


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