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Nós amamos ou odiamos a propaganda da Volkswagen?
Por Rafael Paes Leme e Larissa Rosa
A Volkswagen chegou à marca de setenta anos de atividades no Brasil. E, para comemorar o septuagenário, a montadora lançou uma peça publicitária em que a canção-tema é “Como Nossos Pais”, escrita por Belchior e lançada em 1976 no álbum “Falso Brilhante”, de Elis Regina.
Nosso lado curioso e crítico já acende à escolha da música: uma canção com letra tão crítica ser inserida num comercial comemorativo de uma multinacional. Para impactar mais ainda, uma recriação da própria Elis aparece dirigindo uma Kombi e interpretando a canção – tudo graças à Inteligência Artificial. Emparelhada a ela, sua filha, Maria Rita, dirige uma versão moderníssima do velho furgão alemão, o ID.Buzz, totalmente elétrico.
Ao ser lançado no Youtube, as pessoas de demonstraram emocionadas e até mesmo “viciadas” no comercial, dando diversos views à peça. Pasmem: dezessete horas após a postagem, o contador do Youtube apontou 289 mil visualizações e 15 mil curtidas.
O que dizem os grandões da Volks
Para os executivos da montadora, “a Volkswagen do Brasil tem o compromisso de ser uma empresa cada vez mais humana e próxima das pessoas. E nada mais emocionante do que promover um encontro inédito entre a mãe Elis Regina e a filha Maria Rita, dois ícones da música que estão nos corações dos brasileiros, assim como a Volkswagen do Brasil, que neste ano celebra seus 70 anos de história e sucesso no País.”.
Segundo eles, com a campanha a Volkswagen consegue destacar a evolução da marca e a renovação do seu portfólio de produtos, mostrando que “o novo sempre vem” – mote da campanha. Falando no bom “publicitarioês”: a peça nada mais é do que um time de publicitários fazendo publicidade!
Mas será que funcionou?
Um dos primeiros pontos que precisamos analisar é: a real interpretação do sentido dessa canção. Ao escrevê-la, Belchior criticava a passividade de sua própria geração, incapaz de levar adiante os ideais revolucionários. Em miúdos, “Como Nossos Pais” é um grito contra a falta de mudança, ironizando o que este mesmo sistema chama de “novo”.
O que tiramos de conclusão disso? Estamos falando do contrário de enaltecer a imutabilidade do tempo, que glorifica uma tradição de setenta anos. A canção acaba indo contra os 70 anos da empresa! Existe uma total oposição entre adquirir um veículo automotivo de uma montadora multinacional como símbolo alardeado de uma evolução pessoal e o real desejo de mudança.
O comercial ainda se vale de um uso de recursos de inteligência artificial (IA) para recriar uma intérprete que, possivelmente, jamais participaria de uma ação comercial desta natureza. O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) abriu um processo ético contra a Volkswagen para investigar o uso da imagem da artista para divulgação da marca. Essa decisão foi tomada após diversas pessoas questionarem se é ético trazer alguém de volta à vida via IA.
E então você nos pergunta: amamos ou odiamos esse comercial? Esta peça publicitária nos mostra uma total “hipnotização” do público por efeitos especiais como a IA. Além disso, nos valemos do afeto e as lembranças, nos permitindo, por meio da divulgação, distorcer fatos e sentidos.
Já dizia a canção: “por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina”, e também no comercial!”