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Mulher.zip – Vamos descompactar esse arquivo?



Por Laura Ratto Soares

O movimento “Crie como uma garota” do CCPR ilustra muito bem parte do processo de descompactação da mulher no mercado publicitárioVocê não precisa pensar nem criar como um homem para ter seu lugar, seja em uma agência ou no mercado como um todo. Ser mulher não é demérito, pelo contrário, em um “mar” que só tem tubarão, ser uma sereia é vantagem – mas você precisa acreditar nisso, antes da sua gestão ou colegas de trabalho acreditarem também.  

Como mulher, afrodescendente e cristã já perdi a conta dos desafios superados apenas por essas características. Os desafios profissionais existem para todos, mas ser descartada em entrevistas pela cor da pele, tipo do cabelo ou crença religiosa, são um plus que nós enfrentamos dobrado. 

“Nós não contratamos mulheres porque elas engravidam”, “Como ela vai aguentar a pressão do cliente quando estiver na tpm?”, “Passa um batom vermelho e capricha no decote que amanhã temos reunião com o diretor fulano de tal”, “Se ele der em cima de você, leva numa boa, ele faz isso com todas e não podemos perder essa conta” e, pra finalizar, “Ela se encaixa muito bem no atendimento, um rostinho bonito sempre leva vantagem”. Quais dessas afirmações você, mulher publicitária, já teve que ouvir e quais situações teve que lidar?  

Nos meus dez anos de caminhada, já ouvi coisas que poderiam ter me levado a desistir, há dois anos, eu mesma duvidava se ainda “servia para a publicidade”, havia me esquecido o porquê de ter escolhido essa profissão e tudo o que ela poderia me proporcionar. Ser publicitário não é apenas vender, é ter uma visão do mundo de forma tão ampla e criativa que, por meio das nossas ideias e campanhas, podemos mudá-lo! E eu acredito que nós mulheres devemos começar mudando o estereótipo de que nós “não damos conta”, afinal nós sabemos que damos conta sim!  

Estou na fase final de um dos meus maiores desafios pessoais e profissionais:  manter a criatividade e a produtividade em meio à uma gravidez, em plena pandemia. Confesso, foi um desafio e tanto, mas daqueles que no final nos enchem de orgulho e nos fazem olhar pra trás e falar, com gosto, eu passei por isso e venci. Acredito ser até mais do que simplesmente vencer, mas todo o processo de superação. 

Há temposmeu gestor me incentiva a escrever sobre a visão de uma mulher, com todos os adendos que já contei para vocês, dentro de um mercado tão machista e competitivo. Eis que vim fazê-lo com a gravidez a termo, então me perdoem se for emotiva demais, dura demais ou extensa demais (risos)A seguir alguns pontos que entendo serem essenciais para que sejamos vistas como profissionais criativas, não rotuladas como mulheres e termos que provar algo a mais devido a isso. 

Amar o que faz 

Esse, pra mim, é o ponto principal. Quando você faz algo que ama, o que dizem de negativo para você praticamente não importa. No meu caso, é combustível para fazer com ainda mais vontade. Sua convicção e amor sempre serão maiores do que as críticas não construtivas e os percalços que encontrará devido ao seu gênero. Então, se você ama o que faz, já está um passo à frente. Se não ama, nunca é tarde para se reencontrar na caminhada profissional e ter segurança naquilo que for fazer. 

Saber ouvir críticas e aprender com elas 

Eu já convivi com muitas pessoas que ilustravam o ditado “a desculpa do aleijado é a muleta”. Sentar em cima das dificuldades, ou mais, dos rótulos que a sociedade nos impõe e usá-los como desculpa para não aceitar nenhum tipo de crítica é, no mínimo, infantilidade e falta de profissionalismo. “Ah eles só não gostaram do que fiz porque sou mulher/negra/gorda/crente” – será que você realmente não precisa melhorar algo? Você tem se atualizado? Busca novas referências diariamente e sabe defender, com propriedade, o que criou? Antes do seu gestor ou seus colegas acreditaram em seu potencial, sem rotular você de alguma maneira, você precisa acreditar e buscar evoluir constante e continuamente. Ouça as críticas, corrija os erros, aprenda e traga novas soluções diariamente. Aí, eu te garanto, você não precisará mais de muletas. 

Autoconhecimento  

Uma coisa que é fato científico e comprovado: nós mulheres temos alterações hormonais que mexem com nosso psicológico. Agora eu te pergunto: isso é uma desvantagem? Apenas se você não se conhecer bem o bastante para administrar essas alterações e usá-las a seu favor. “Ah Laura, como é possível usar isso a meu favor?” Vou contar pra vocês que eu sou uma pessoa muito tranquila, mas durante a gravidez eu fiquei muito brava e irritada (para quem me conhece é quase impossível imaginar isso, rs). Eu já sabia que teria alterações, canalizei isso e, quando estava brava usava a energia para ser mais produtiva e, quando estava emotiva, canalizava para ser mais criativa. É possível, mas precisamos de esforço e vontade. Lembra do amor ao que fazemos? Não existe combustível melhor. 

Trabalho em equipe e transparência  

Esse será meu último tópico, já me estendi mais do que deveria. Mas não poderia encerrar sem citar a grande importância de se trabalhar em equipe. Expor os seus pontos fracos e saber pedir ajuda para evoluir; conheceos pontos fracos dos seus colegas para ajudá-los e compor nos momentos necessários, são dois pilares essenciais. Nunca usuma qualidade sua para desmerecer um ponto fraco do seu colega, pelo contrário, em um time precisamos de todos! Do que corre mais, do que pontua mais, daquela que não entra em quadra, mas não para de gritar no banco. Precisamos do capitão que traduz em quadra o que o técnico falou e daquele que tem raça pra defender quando ninguém mais tem perna. 

 

Ficou bem conhecida a frase “ninguém solta a mão de ninguém” e é assim que tem que ser em uma equipe. Quando um faz gol, todos vibram e vencem; já quando um deixa passar e leva o gol da derrota do campeonato, todos sofrem e, juntos, ajustam a trajetória. Ninguém aponta ninguém! 

 

Um dia meu avô me disse algo que eu nunca esqueci: quem pergunta pode parecer burro por um instante, mas quem deixa de perguntar permanecerá ignorante por toda vida. Não tenha vergonha de levantar a mão e dizer “eu errei”, ou então “eu preciso de ajuda”. São atitudes corajosas e que farão diferença lá na frente. 

 

Mulheres: sejam agentes descompactadoras em nosso mercado. Tenham as ferramentas para serem reconhecidas pelo que fazem, não pelo sexo que possuem. 

 

Homens: não sejam agentes compactadores em nosso mercado, não julguem uma profissional pelo seu sexo e alterações hormonais. Desenvolvam e incentivem a todos os profissionais da mesma forma, vocês irão se surpreender. 


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